Morre Millôr Fernandes
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Morre Millôr Fernandes
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/03/morre-no-rio-o-escritor-millor-fernandes.html
O escritor carioca Millôr Fernandes morreu, às 21h desta terça-feira (27), em casa, no bairro de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo Ivan Fernandes, filho do escritor, ele teve falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. Millôr tinha dois filhos, Ivan e Paula, e um neto, Gabriel. Ele foi casado com Wanda Rubino Fernandes. De acordo com sua certidão, Millôr nasceu no dia 27 de maio de 1924, embora ele dissesse que a data correta era 16 de agosto do ano anterior.
De acordo com a família, o velório está marcado para esta quinta-feira (29), das 10h às 15h, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio. Em seguida, o corpo será cremado numa cerimônia só para a família.
Em 2011, o escritor chegou a ser internado duas vezes na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul. Na época, a assessoria do hospital não detalhou o motivo da internação a pedido da família.
O escritor carioca Millôr Fernandes morreu, às 21h desta terça-feira (27), em casa, no bairro de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo Ivan Fernandes, filho do escritor, ele teve falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. Millôr tinha dois filhos, Ivan e Paula, e um neto, Gabriel. Ele foi casado com Wanda Rubino Fernandes. De acordo com sua certidão, Millôr nasceu no dia 27 de maio de 1924, embora ele dissesse que a data correta era 16 de agosto do ano anterior.
De acordo com a família, o velório está marcado para esta quinta-feira (29), das 10h às 15h, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio. Em seguida, o corpo será cremado numa cerimônia só para a família.
Em 2011, o escritor chegou a ser internado duas vezes na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul. Na época, a assessoria do hospital não detalhou o motivo da internação a pedido da família.
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Ricardo- Membro
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Re: Morre Millôr Fernandes
http://oglobo.globo.com/cultura/morre-aos-88-anos-mestre-do-humor-millor-fernandes-4433608
RIO - O escritor e cartunista Millôr Fernandes morreu na madrugada desta quarta-feira aos 88 anos, em sua casa, em Ipanema, na Zona Sul do Rio. Segundo o filho de Millôr, Ivan Fernandes, em entrevista ao G1, o escritor teve falência múltipla dos órgãos. Ele recebia acompanhamento médico em casa desde que sofreu um acidente vascular cerebral isquêmico em fevereiro do ano passado. De acordo com a família, o velório será nesta quinta-feira, das 10h às 15h, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio. O corpo do escritor será cremado em seguida. Ele deixa mulher e dois filhos.
Jornalista, escritor, ilustrador, dramaturgo, fabulista, calígrafo, tradutor de Shakespeare, Molière e Brecht, inventor do frescobol, vice-campeão mundial de pesca ao atum na Nova Escócia em 1953 e "medalha de ouro no concurso para ele mesmo" (como uma vez se definiu), Millôr Fernandes foi, ao longo de mais de sete décadas de carreira, uma figura pública única no Brasil. Um frasista brilhante que via no humor "a quintessência da seriedade", como gostava de resumir, Millôr passou grande parte da vida profissional ameaçado pela censura — e debochando dela em comentários que iam do nonsense à crítica social aguda no espaço de poucas palavras. Com passagens marcantes por veículos como "O Cruzeiro", "O Pasquim" e "Jornal do Brasil", entre muitos outros, ele participou de algumas das principais transformações da imprensa brasileira no século XX e se tornou um dos mais queridos cronistas do país.
Filho de Francisco Fernandes e de Maria Viola Fernandes, Millôr Fernandes nasceu no Méier, bairro da Zona Norte carioca ao qual só se referia como "Meyer", em 16 de agosto de 1923. A data de nascimento que constava de sua carteira de identidade, no entanto, era 25 de maio de 1924. Outra confusão deu o nome com que se tornou conhecido. Seus pais queriam chamá-lo de Milton, mas o nome, escrito à mão, acabou lido e registrado no cartório como Millôr. Ao descobrir o engano, já com 17 anos, resolveu adotar a nomeação acidental. Perdeu o pai e a mãe cedo, e a orfandade, dizia, o fez chegar não só à conclusão de que Deus não existe, como lhe proporcionou o que ele chamou de "a paz da descrença": "Você nunca viu 10 mil incrédulos invadirem o país de outros 10 mil incrédulos para impor sua descrença", escreveu, muitos anos depois, para defender sua posição.
Ainda jovem, começou a ler quadrinhos (aos quais, mais tarde, se referiria sempre como sua "maior influência intelectual") e, logo, a fazer tiras e desenhos. Em 1938, ganhou um concurso de crônicas da revista "A Cigarra", onde foi trabalhar com o editor Frederico Chateaubriand. Num dia em que um anunciante não enviou as quatro páginas de publicidade prometidas, Chateaubriand encarregou o jovem recém-chegado de preencher o espaço em branco: Millôr assinou como Vão Gogo e o sucesso foi tanto que o pseudônimo ganhou espaço permanente na coluna "Poste escrito".
Foi o início de um sucesso editorial sem precedentes na imprensa brasileira. Após um período como diretor de "A Cigarra" e "O Guri" e colunista no "Diário da noite", Millôr foi em 1941 para "O Cruzeiro". Sua coluna "Pif paf", ainda assinada como Vão Gogo, dividia as páginas da revista com as reportagens de David Nasser (que Millôr definia como um péssimo caráter mas um grande talento), as fotos de Jean Manzon (responsável pelas únicas imagens feitas do bailarino Nijinski internado no hospício), e desenhos de Carlos Estevão e Péricles, criador do "Amigo da Onça". Nessa fase, a circulação da revista saltou de 11 mil para 720 mil exemplares.
Só por ter feito parte desta equipe, Millôr já teria garantido seu nome na história da imprensa e do humor brasileiros. Mas conseguiu outras façanhas, graças ao seu espírito independente e crítico, que lhe renderam tantos problemas quanto admiradores: a saída de "O Cruzeiro", em 1963, foi provocada por uma sátira ao "Gênesis". Sua "Verdadeira história do paraíso", em que ele critica Deus em verso ("essa pressa leviana/ demonstra o incompetente/ fazer o mundo em sete dias/ com a eternidade pela frente") foi atacada em editorial publicado na própria revista, enquanto o humorista estava de férias.
Àquela altura, chamar Millôr de humorista era reduzir o alcance de suas atividades. Ele já tinha se iniciado no ofício de tradutor de peças que o levaria a verter para o português um total de 74 obras teatrais, entre elas "Hamlet", de Shakespeare, "O jardim das cerejeiras", de Tchekov, "Assim é se lhe parece" de Pirandello e "Antígona", de Sofócles. Sua primeira peça, "Uma mulher em três atos", estreou em 1953.
Na mesma década, com um grupo de amigos de praia, ajudou a criar o frescobol, uma das criações de que mais se orgulhava. Num mosaico de azulejos de sua autoria na Praça Sarah Kubitschek, em Copacabana, homenageia a atividade: "único esporte com espírito esportivo, sem disputa formal, vencidos ou vencedores".
Depois da saída de "O Cruzeiro", Millôr continuou a variar suas atividades. Criou um quadro na TV Excelsior, "Lições de um ignorante", censurado por Juscelino Kubistchek ("Fui censurado por todos os governos, com exceção do Dutra", disse ele em uma entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, no fim dos anos 80). Transformou a "Pif-paf" em revista, mas a censura e a repressão após o golpe militar de 1964 fizeram com que a publicação fosse fechada após poucos números. A experiência justificou o pessimismo o artigo de estreia em "O Pasquim", semanário criado em 1969 por um grupo de jornalistas que não conseguia espaço para publicar, como o cartunista Jaguar, Sérgio Cabral, Paulo Francis, Ivan Lessa e Tarso de Castro: "Se este jornal for independente, não dura três meses. Se durar três meses, não é independente".
"O Pasquim" durou mais do que três meses, e manteve a independência — o que fez Jaguar classificá-lo de "o verdadeiro milagre brasileiro". O semanário tornou-se um sucesso por atacar a ditadura com uma ironia que muitas vezes escapava aos censores e espalhou para o resto do país o espírito do que se convencionou chamar de "a patota de Ipanema" — até o censor do jornal, de certa forma, orbitava em torno da aura do bairro: o militar era pai de Helô Pinheiro, que inspirou a música "Garota de Ipanema", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
A maior parte da equipe ficou dois meses presa no fim de 1970 — e Millôr, um dos que ficou de fora, assumiu a direção do jornal e tornou-se também ghost-writer dos colegas, escrevendo algumas seções no estilo deles, como forma de evitar que a publicação parasse, durante o que se chamou de "gripe do ‘Pasquim’".
Millôr podia parecer subversivo para os militares — mas não aceitava de imediato qualquer novidade que parecesse uma subversão das regras vigentes, se não fosse bem justificada. Foi por isso que o autor teatral de "É..." (grande sucesso de Fernanda Montenegro) desconfiou de Antonin Artaud e desdenhou do teatro Oficina de Zé Celso Martinez Corrêa. E o admirador de Bernard Shaw, defensor da liberdade das mulheres, criticou o movimento feminista.
O fundamental era manter a liberdade de pensar, para o escritor que, àquela altura, já escrevia para a revista "Veja" (da qual seria colaborador de 1968 a 1982 e, depois, de 2004 a 2009) pensamentos como "O natal vem aí: QUE HORROR". Quando o número 300 do "Pasquim" foi apreendido por ordem do então ministro da Justiça, Armando Falcão, em 1975, Millôr defendeu que Falcão fosse o alvo preferencial das sátiras do número seguinte. O resto da equipe discordou, e ele deixou o jornal.
Foi também por não querer transigir com os diretores da revista "Veja" na campanha eleitoral para governador em 1982 — a primeira eleição direta para o cargo executivo desde 1964 — que Millôr saiu da "Veja". A revista queria que ele não defendesse a candidatura de Leonel Brizola e ele recusou-se (mais tarde, não se deteve em criticar o líder pedetista). Mudando para o "Jornal do Brasil", publicava charges, pequenos textos e poemas em um espaço quadrado na página de opinião do jornal. Foi a partir do quadrilátero que acompanhou e criticou a transição do regime militar para a Nova República, e, empossado José Sarney como presidente, dedicou-se a atingir o político maranhense onde mais doía — na sua atividade literárias. Quando Sarney publicou "Brejal dos Guajás", Millôr ironizou frase por frase o início do romance, empenhado em demonstrar como nenhuma delas fazia sentido. Ao lado de Sarney, Fernando Henrique Cardoso foi outro presidente alvejado pela produção intelectual — o alvo foi sua obra mais famosa, "Dependência e desenvolvimento na América Latina". As sátiras aos dois foram reunidas em "Crítica da razão impura ou o primado da ignorância" (L&PM). "Fernando Henrique, o Lula barroco", foi como se referiu certa vez ao ex-presidente, para irritar tanto petistas quanto tucanos.
Desenhista admirador de Saul Steinberg, Millôr teve exposições dedicadas a sua arte visual no Museu de Arte Moderna em 1957 e 1977, foi um dos primeiros artistas gráficos a usar o computador para suas criações, e migrou sem problemas para a internet: criou um site e, nos últimos tempos, havia aderido ao Twitter. Em seu perfil, seguido por mais de 360 mil pessoas, distribuía as frases que o tornaram famoso, ou que adquiriram fama própria, longe do autor.
RIO - O escritor e cartunista Millôr Fernandes morreu na madrugada desta quarta-feira aos 88 anos, em sua casa, em Ipanema, na Zona Sul do Rio. Segundo o filho de Millôr, Ivan Fernandes, em entrevista ao G1, o escritor teve falência múltipla dos órgãos. Ele recebia acompanhamento médico em casa desde que sofreu um acidente vascular cerebral isquêmico em fevereiro do ano passado. De acordo com a família, o velório será nesta quinta-feira, das 10h às 15h, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio. O corpo do escritor será cremado em seguida. Ele deixa mulher e dois filhos.
Jornalista, escritor, ilustrador, dramaturgo, fabulista, calígrafo, tradutor de Shakespeare, Molière e Brecht, inventor do frescobol, vice-campeão mundial de pesca ao atum na Nova Escócia em 1953 e "medalha de ouro no concurso para ele mesmo" (como uma vez se definiu), Millôr Fernandes foi, ao longo de mais de sete décadas de carreira, uma figura pública única no Brasil. Um frasista brilhante que via no humor "a quintessência da seriedade", como gostava de resumir, Millôr passou grande parte da vida profissional ameaçado pela censura — e debochando dela em comentários que iam do nonsense à crítica social aguda no espaço de poucas palavras. Com passagens marcantes por veículos como "O Cruzeiro", "O Pasquim" e "Jornal do Brasil", entre muitos outros, ele participou de algumas das principais transformações da imprensa brasileira no século XX e se tornou um dos mais queridos cronistas do país.
Filho de Francisco Fernandes e de Maria Viola Fernandes, Millôr Fernandes nasceu no Méier, bairro da Zona Norte carioca ao qual só se referia como "Meyer", em 16 de agosto de 1923. A data de nascimento que constava de sua carteira de identidade, no entanto, era 25 de maio de 1924. Outra confusão deu o nome com que se tornou conhecido. Seus pais queriam chamá-lo de Milton, mas o nome, escrito à mão, acabou lido e registrado no cartório como Millôr. Ao descobrir o engano, já com 17 anos, resolveu adotar a nomeação acidental. Perdeu o pai e a mãe cedo, e a orfandade, dizia, o fez chegar não só à conclusão de que Deus não existe, como lhe proporcionou o que ele chamou de "a paz da descrença": "Você nunca viu 10 mil incrédulos invadirem o país de outros 10 mil incrédulos para impor sua descrença", escreveu, muitos anos depois, para defender sua posição.
Ainda jovem, começou a ler quadrinhos (aos quais, mais tarde, se referiria sempre como sua "maior influência intelectual") e, logo, a fazer tiras e desenhos. Em 1938, ganhou um concurso de crônicas da revista "A Cigarra", onde foi trabalhar com o editor Frederico Chateaubriand. Num dia em que um anunciante não enviou as quatro páginas de publicidade prometidas, Chateaubriand encarregou o jovem recém-chegado de preencher o espaço em branco: Millôr assinou como Vão Gogo e o sucesso foi tanto que o pseudônimo ganhou espaço permanente na coluna "Poste escrito".
Foi o início de um sucesso editorial sem precedentes na imprensa brasileira. Após um período como diretor de "A Cigarra" e "O Guri" e colunista no "Diário da noite", Millôr foi em 1941 para "O Cruzeiro". Sua coluna "Pif paf", ainda assinada como Vão Gogo, dividia as páginas da revista com as reportagens de David Nasser (que Millôr definia como um péssimo caráter mas um grande talento), as fotos de Jean Manzon (responsável pelas únicas imagens feitas do bailarino Nijinski internado no hospício), e desenhos de Carlos Estevão e Péricles, criador do "Amigo da Onça". Nessa fase, a circulação da revista saltou de 11 mil para 720 mil exemplares.
Só por ter feito parte desta equipe, Millôr já teria garantido seu nome na história da imprensa e do humor brasileiros. Mas conseguiu outras façanhas, graças ao seu espírito independente e crítico, que lhe renderam tantos problemas quanto admiradores: a saída de "O Cruzeiro", em 1963, foi provocada por uma sátira ao "Gênesis". Sua "Verdadeira história do paraíso", em que ele critica Deus em verso ("essa pressa leviana/ demonstra o incompetente/ fazer o mundo em sete dias/ com a eternidade pela frente") foi atacada em editorial publicado na própria revista, enquanto o humorista estava de férias.
Àquela altura, chamar Millôr de humorista era reduzir o alcance de suas atividades. Ele já tinha se iniciado no ofício de tradutor de peças que o levaria a verter para o português um total de 74 obras teatrais, entre elas "Hamlet", de Shakespeare, "O jardim das cerejeiras", de Tchekov, "Assim é se lhe parece" de Pirandello e "Antígona", de Sofócles. Sua primeira peça, "Uma mulher em três atos", estreou em 1953.
Na mesma década, com um grupo de amigos de praia, ajudou a criar o frescobol, uma das criações de que mais se orgulhava. Num mosaico de azulejos de sua autoria na Praça Sarah Kubitschek, em Copacabana, homenageia a atividade: "único esporte com espírito esportivo, sem disputa formal, vencidos ou vencedores".
Depois da saída de "O Cruzeiro", Millôr continuou a variar suas atividades. Criou um quadro na TV Excelsior, "Lições de um ignorante", censurado por Juscelino Kubistchek ("Fui censurado por todos os governos, com exceção do Dutra", disse ele em uma entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, no fim dos anos 80). Transformou a "Pif-paf" em revista, mas a censura e a repressão após o golpe militar de 1964 fizeram com que a publicação fosse fechada após poucos números. A experiência justificou o pessimismo o artigo de estreia em "O Pasquim", semanário criado em 1969 por um grupo de jornalistas que não conseguia espaço para publicar, como o cartunista Jaguar, Sérgio Cabral, Paulo Francis, Ivan Lessa e Tarso de Castro: "Se este jornal for independente, não dura três meses. Se durar três meses, não é independente".
"O Pasquim" durou mais do que três meses, e manteve a independência — o que fez Jaguar classificá-lo de "o verdadeiro milagre brasileiro". O semanário tornou-se um sucesso por atacar a ditadura com uma ironia que muitas vezes escapava aos censores e espalhou para o resto do país o espírito do que se convencionou chamar de "a patota de Ipanema" — até o censor do jornal, de certa forma, orbitava em torno da aura do bairro: o militar era pai de Helô Pinheiro, que inspirou a música "Garota de Ipanema", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
A maior parte da equipe ficou dois meses presa no fim de 1970 — e Millôr, um dos que ficou de fora, assumiu a direção do jornal e tornou-se também ghost-writer dos colegas, escrevendo algumas seções no estilo deles, como forma de evitar que a publicação parasse, durante o que se chamou de "gripe do ‘Pasquim’".
Millôr podia parecer subversivo para os militares — mas não aceitava de imediato qualquer novidade que parecesse uma subversão das regras vigentes, se não fosse bem justificada. Foi por isso que o autor teatral de "É..." (grande sucesso de Fernanda Montenegro) desconfiou de Antonin Artaud e desdenhou do teatro Oficina de Zé Celso Martinez Corrêa. E o admirador de Bernard Shaw, defensor da liberdade das mulheres, criticou o movimento feminista.
O fundamental era manter a liberdade de pensar, para o escritor que, àquela altura, já escrevia para a revista "Veja" (da qual seria colaborador de 1968 a 1982 e, depois, de 2004 a 2009) pensamentos como "O natal vem aí: QUE HORROR". Quando o número 300 do "Pasquim" foi apreendido por ordem do então ministro da Justiça, Armando Falcão, em 1975, Millôr defendeu que Falcão fosse o alvo preferencial das sátiras do número seguinte. O resto da equipe discordou, e ele deixou o jornal.
Foi também por não querer transigir com os diretores da revista "Veja" na campanha eleitoral para governador em 1982 — a primeira eleição direta para o cargo executivo desde 1964 — que Millôr saiu da "Veja". A revista queria que ele não defendesse a candidatura de Leonel Brizola e ele recusou-se (mais tarde, não se deteve em criticar o líder pedetista). Mudando para o "Jornal do Brasil", publicava charges, pequenos textos e poemas em um espaço quadrado na página de opinião do jornal. Foi a partir do quadrilátero que acompanhou e criticou a transição do regime militar para a Nova República, e, empossado José Sarney como presidente, dedicou-se a atingir o político maranhense onde mais doía — na sua atividade literárias. Quando Sarney publicou "Brejal dos Guajás", Millôr ironizou frase por frase o início do romance, empenhado em demonstrar como nenhuma delas fazia sentido. Ao lado de Sarney, Fernando Henrique Cardoso foi outro presidente alvejado pela produção intelectual — o alvo foi sua obra mais famosa, "Dependência e desenvolvimento na América Latina". As sátiras aos dois foram reunidas em "Crítica da razão impura ou o primado da ignorância" (L&PM). "Fernando Henrique, o Lula barroco", foi como se referiu certa vez ao ex-presidente, para irritar tanto petistas quanto tucanos.
Desenhista admirador de Saul Steinberg, Millôr teve exposições dedicadas a sua arte visual no Museu de Arte Moderna em 1957 e 1977, foi um dos primeiros artistas gráficos a usar o computador para suas criações, e migrou sem problemas para a internet: criou um site e, nos últimos tempos, havia aderido ao Twitter. Em seu perfil, seguido por mais de 360 mil pessoas, distribuía as frases que o tornaram famoso, ou que adquiriram fama própria, longe do autor.
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"Spend more time looking at the fingerboard and less time looking at the headstock".
Ricardo- Membro
- Mensagens : 1939
Localização : Curitiba - Pr
Re: Morre Millôr Fernandes
Grande perda para nossa cultura. Millôr foi um grande questionador e um escritor como poucos. Que descanse em paz.
Re: Morre Millôr Fernandes
Duas grandes perdas em pouquíssimo tempo: Chico Anysio e Millôr...
Mauricio Luiz Bertola- FCBR-CT
- Mensagens : 16619
Localização : Niterói, RJ
Re: Morre Millôr Fernandes
Putz,
A pouquíssima quantidade do que presta em matéria de arte no 'Brazil', esta se acabando, um artista atrás do outro!
Ou seria apenas impressão minha?
A pouquíssima quantidade do que presta em matéria de arte no 'Brazil', esta se acabando, um artista atrás do outro!
Ou seria apenas impressão minha?
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Moacir Teles - Vocal, Contrabaixo e Gaita Diatônica - SALLADINE
Re: Morre Millôr Fernandes
Realmente estamos ficando mais pobres....
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Site:http://shiproomestudio.wordpress.com/ - Face:https://www.facebook.com/shiproomestudio
SHIP ROOM ESTUDIO- FCBR-Parceiro
- Mensagens : 2187
Localização : .
Re: Morre Millôr Fernandes
Que pena, mais um grande que se vai...
joabi- Eterno Colaborador
- Mensagens : 6617
Localização : Campinas - SP
Re: Morre Millôr Fernandes
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Bem-vindo ao Fórum ContrabaixoBR - Favor ler as regras clicando aqui
“Nenhuma quantidade de evidência irá persuadir um idiota”
(Mark Twain)
Cantão- Moderador
- Mensagens : 21939
Localização : Bauru
Re: Morre Millôr Fernandes
Gostava mais dos textos do Millor do que do Anysio, mas ambos farão muita falta.
CaQuinhO- Membro
- Mensagens : 2019
Localização : Natal - RN
Re: Morre Millôr Fernandes
"O cadáver, esse sim, é um homem realizado".
Vá em paz.
Vá em paz.
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Clube dos Baixistas do Rio de Janeiro #29 -- Clube Cort #62 -- Clube GK Gallien-Krueger #41
celsofaf- Membro
- Mensagens : 232
Localização : Rio de Janeiro, RJ (made in Pindamonhangaba)
Re: Morre Millôr Fernandes
O mundo está ficando cada vez mais sem graça...
Vá em paz Millor!!
Obrigado por seus textos críticos e bem sacados! Humor refinado, que as vezes beirava o sarcástico.
Descanse em paz! ( e não deixe de trollar o Chico!)
Vá em paz Millor!!
Obrigado por seus textos críticos e bem sacados! Humor refinado, que as vezes beirava o sarcástico.
Descanse em paz! ( e não deixe de trollar o Chico!)
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Nunca dei a mínima para baixos caros, de marca, exceto os RK's, já não posso dizer o mesmo sobre pedais overdrive. Obrigado JAZZigo.
Re: Morre Millôr Fernandes
Lí "30 anos de mim mesmo" e "Um elefante no Caos" quando tinha 15 anos.
Sempre gostei do humor refinado e inteligente do Millor.
Quando soube, que ele tinha já uns 50 anos quando tinha 15 anos foi um choque.
Sempre achei pelos livros dele, que ele era bem mais jovem.
Hoje quem tem 50 anos sou eu...
e percebo que mesmo nessa idade, podemos ter uma cabeça de uma pessoa bem mais jovem sem ser ridículo.
Millor me mostrou isso!!!
Sempre gostei do humor refinado e inteligente do Millor.
Quando soube, que ele tinha já uns 50 anos quando tinha 15 anos foi um choque.
Sempre achei pelos livros dele, que ele era bem mais jovem.
Hoje quem tem 50 anos sou eu...
e percebo que mesmo nessa idade, podemos ter uma cabeça de uma pessoa bem mais jovem sem ser ridículo.
Millor me mostrou isso!!!
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Regras do Fórum - CUMPRIMENTO OBRIGATÓRIO - Regras de Netiqueta - TODOS LEIAM POR FAVOR
https://www.youtube.com/user/ForumContrabaixoBR
Re: Morre Millôr Fernandes
Que descanse em PAZ !
Eliseumohr- Membro
- Mensagens : 1314
Localização : pva do leste MT
Re: Morre Millôr Fernandes
Chico e Millôr foram quase juntos...Realmente isso aqui tá perdendo a graça!
Não sei o que vai ser do futuro desse país sem cabeças pensantes e bem humoradas. O humor ainda é uma das poucas coisas que mantém o Brasil como é, porque o sofrimento desse povo associado à trollagem ininterrupta e cruel (quase um bullying) desse governo imbecil e FDP, sem o bom humor do brasileiro, nós teríamos uma guerra civil por semana aqui!
Não sei o que vai ser do futuro desse país sem cabeças pensantes e bem humoradas. O humor ainda é uma das poucas coisas que mantém o Brasil como é, porque o sofrimento desse povo associado à trollagem ininterrupta e cruel (quase um bullying) desse governo imbecil e FDP, sem o bom humor do brasileiro, nós teríamos uma guerra civil por semana aqui!
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Twitter: @AndrezinhoEC (follow me if you can - hehehe) - Clubes: Baixolão #23 / Tagima #19 / Pedreiros #38 (?) / Condor #39 / Voila #08 / Fretless #32
Andrezinho- Membro
- Mensagens : 3329
Localização : Rio de Janeiro
Re: Morre Millôr Fernandes
Maurício_Expressão escreveu:Lí "30 anos de mim mesmo" e "Um elefante no Caos" quando tinha 15 anos.
Sempre gostei do humor refinado e inteligente do Millor.
Quando soube, que ele tinha já uns 50 anos quando tinha 15 anos foi um choque.
Sempre achei pelos livros dele, que ele era bem mais jovem.
Hoje quem tem 50 anos sou eu...
e percebo que mesmo nessa idade, podemos ter uma cabeça de uma pessoa bem mais jovem sem ser ridículo.
Millor me mostrou isso!!!
Realmente, Maurício, os textos do Millor davam a impressão de terem sido escritos por um velho amigo da gente. E parecia que ele tinha a idade de quem está lendo.
Apesar do humor sarcástico ser a marca registrada dele, a quantidade de cultura e conhecimento que aquele homem possuía eram notáveis. Não é todo mundo que traduz Shakespeare.
Salve Millor!
joabi- Eterno Colaborador
- Mensagens : 6617
Localização : Campinas - SP
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