Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
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Cantão
dj jorge cafe
Zubrycky
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Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Saudações a todos!
Sentado em minha mesa, da janela do meu quarto contemplo, atrás de meu computador, o céu espesso plúmbeo de uma tarde nublada e chuvosa que recobre todo o céu que consigo vislumbrar daqui.
Hoje me senti triste por saber que Ray Bradbury, um dos meus autores favoritos, faleceu. Ele foi um dos meus companheiros em minha adolescência... Havia alguns livros dele na biblioteca da minha escola e, após ter lido todos os que lá estavam disponíveis, ao longo dos anos comprei outros livros que pude dele encontrar.
Havia, confesso, outro tema que estava sendo preparado para esta segunda coluna, mas a morte de Bradbury me fez mudar de idéia, de forma que resolvi abordar um novo assunto.
Esta coluna não é propriamente uma elegia à Bradbury. Não falarei aqui sobre a sua vida e, com duas pequenas exceções que guardo para o final deste Contraponto, também não falarei sobre as obras escritas por ele.
Quero, no momento, apenas evocar esta frase dele: "I spent three days a week for 10 years educating myself in the public library, and it's better than college. People should educate themselves - you can get a complete education for no money. At the end of 10 years, I had read every book in the library and I'd written a thousand stories".
Para aqueles que (ainda) não são versados na língua bretã, eis uma tradução livre: "Eu passei 3 dias por semana durante 10 anos me educando na biblioteca pública e isso é melhor do que a escola. As pessoas deveriam se educar por si mesmas - Você consegue uma educação completa sem gastar dinheiro algum. Ao término daqueles 10 anos, eu li cada livro daquela livraria e escrevi mil histórias".
Aonde quero chegar com tudo isso? Meu intuito é chegar a mais um ponto que é muito pouco explorado, ao meu ver, dentro da discussão do aprendizado musical: A importância de buscar não somente o aprimoramento musical, mas também o enriquecimento cultural através do contato com outras formas de arte e, em especial, com a literatura.
Eu me lembro, enquanto escrevo estas linhas, da Darcy, minha professora de redação no colégio e ela nos dizia sobre o texto padrão. De acordo com ela, o texto padrão é o conjunto que cada um de nós adquire e internaliza por meio das leituras que fazemos. Ela nos dizia para sempre lermos pois isso tornaria o ato de escrever mais fácil porque, ao se ter um texto padrão vasto, seríamos amparados e guiados por ele.
Em outras palavras, ela nos instruiu a sempre ler para que nós sempre tivéssemos o que dizer.
Pensem, meus caros, em alguém instruído na arte da oratória, alguém que seja um mestre consumado nesta arte.
A verdade é que mesmo um orador neste nível precisa ter o que dizer... Sem isso, sua arte não serve para nada.
E o mesmo se aplica para qualquer outro artista, ouso dizer.
Sendo assim, penso que qualquer músico se torna ainda melhor em seu ofício quando este decide se dedicar TAMBÉM à leitura das obras literárias que estão disponíveis para todos nós.
Ler é tomar posse do que é nosso, da nossa herança cultural. Ler é dialogar com as grandes mentes do presente e do passado. Ler é poder conhecer lugares que talvez nunca conheçamos pessoalmente. Ler é poder sermos outras pessoas. Ler é poder vislumbrar o futuro. Ler é ter contato com IDÉIAS ( E Einstein diria que nenhuma mente volta ao tamanho original após ter contato com uma idéia)
E, além de tudo isso, ler nos torna capazes de dizer o que quisermos porque ler nos dá o que dizer.
Se partirmos do postulado de que música é a arte de expressar emoções pelo som, como poderemos expressar emoções se não as conhecemos? Como poderemos falar com propriedade do amor intenso que floriu em meio ao ódio entre Montecchios e Capuletos se nunca lemos "Romeu e Julieta"?
Como poderemos conceber a tristeza de Orfeu pela perda de Eurídice sem ler o mito? Como poderemos mergulhar na obsessão de Ahab sem adentrar nas páginas de "Moby Dick"? Como poderemos falar de gigantes disfarçados de moinhos de vento sem conhecer as "As Aventuras do Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha"?
É preciso conhecer algo para poder ser capaz de falar deste algo e/ou expressá-lo da forma mais intensa, visceral e fideldigna possível.
Em suma, para dizer qualquer coisa, é preciso ter algo para dizer.
E como se obtem esse algo? Lendo.
E, sendo mais preciso e enfático, ler as obras em sua forma integral. Nada de versões resumidas.
Saber a história não é o bastante. É preciso embarcar em cada página, uma após a outra.
Sempre ilustro a diferença entre ler a obra integral e a versão resumida da seguinte forma: Quem conclui a obra integral escala uma montanha e chega ao topo dela. Quem lê a versão resumida vê uma foto do topo sem ter tido o trabalho de ter chegado até lá.
E há outra razão pela qual insisto na obra integral. Além dessa ser a forma concebida pelo autor, a leitura da obra em sua totalidade faz com que nós, músicos, exercitemos uma habilidade que muito nos é útil, uma habilidade que é cada vez mais rara nesses tempos googleanos: CONCENTRAÇÃO.
Música exige concentração, foco, disciplina. E a leitura de obras desafiadoras exige e nos ensina justamente isso.
Já notaram como geração google aparentemente é incapaz de ficar 5 minutos concentrada em alguma coisa? Como o conhecimento fica resumido apenas aos mares rasos da Wikipedia?
É isso o que queremos de nossa arte? Que ela seja rasa e sem foco?
Creio que não.
Enfim, a literatura não é apenas a cura para a ignorância e para o entorpecimento tão desejado por aqueles que nos governam. Ela também nos torna pessoas melhores.
E músicos melhores também, pois quem tem o que dizer pode realmente falar sobre o que quiser.
O estudo das letras de vários grupos mostra, em muitos casos, a existência de uma relação estreita entre música e literatura. Muitas bandas se valeram de assuntos literários para fazer as suas músicas.
Eis 3 exemplos práticos da relação música/literatura que divido com vocês.
1) Ramble On - Led Zeppelin
A letra menciona personagens e locais da trilogia "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien.
“How years ago in days of old
When magic filled the air,
T’was in the darkest depths of Mordor
I met a girl so fair.
But Gollum, and the evil one crept up
And slipped away with her.”
2) White Rabbit - Jefferson Airplane
A letra evoca o clássico "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll. Vale lembrar que Alice entra no País das Maravilhas após seguir o Coelho Branco (Personagem que dá nome para esta canção) e cair em um buraco.
“And if you go chasing rabbits
And you know you’re going to fall
Tell ‘em a hookah smoking caterpillar
Has given you the call
Call Alice
When she was just small.”
3)Don't stand so close to me - The Police
Esta música, inspirada pelo romance "Lolita" (De Vladimir Nabokov), trata sobre a atração de uma estudante por seu professor, mais velho do que ela. O livro chega a ser mencionado na letra.
“Loose talk in the classroom
To hurt they try and try
Strong words in the staffroom
The accusations fly
It’s no use, he sees her
He starts to shake and cough
Just like the old man in
That book by Nabokov.”
Poderia aqui evocar mais e mais exemplos indefinidamente, mas para os fins desta coluna, 3 já bastam. Aos interessados em buscar mais exemplos deixo esta lista que retirei dos mares rasos (Mas úteis) da Wikipedia.
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_songs_that_retell_a_work_of_literature
Esta lista (Em inglês) é um compêndio de músicas que sofreram influência de (ou recontam) obras literárias. A lista é vasta (Embora incompleta) e a leitura dela mostra o quanto foi importante para aqueles músicos terem o que dizer para poderem dizer o que eles queriam dizer... E como isso teria sido impossível se aqueles músicos nunca tivessem lido tais livros.
Notem que não estou partindo do princípio de que é preciso erudição para fazer obras musicais válidas. Ter contato com as grandes obras literárias não é uma condição sine qua non para que o resultado musical final alcance o cume da perfeição artística.
Muitas músicas de imensa qualidade são ou foram feitas por pessoas sem instrução formal ou mesmo analfabetas... Isso é um fato. Entretanto, vale lembrar que na grande maioria destes casos, os músicos em questão viveram (Ou vivem) imersos em um meio musical que é próprio do local geográfico habitado por estes músicos e estes músicos aprendem (Ou aprenderam) o seu ofício através do contato direto com a tradição musical daquele lugar, tradição que é passada geração após geração.
Neste caso, a ausência de instrução formal é suprida pelo contato com a tradição musical dos antepassados, tradição que, ao ser passada para a nova geração, se torna rediviva.
Entretanto, esses músicos pertencem a um mundo diferente do que aquele habitado pelos músicos desse fórum. Estamos em uma realidade fragmentada, multicultural e cheia de possibilidades, pois estamos expostos a um volume de informação dinâmica a todo momento.
Temos possibilidades que outras pessoas não tem. Devemos aproveitá-las, não?
Sendo assim, leiam mais. Arranjem tempo. Expandam seus horizontes. Sua arte florescerá, posso assegurar porque quem não tiver o que dizer terá o que dizer e quem já tem o que dizer terá ainda mais o que dizer.
Ray Bradbury disse certa vez que pior que queimar livros é não lê-los. Concordo com ele.
Vejam que não é a minha intenção me colocar acima de qualquer um aqui. Só eu sei o tamanho de minha própria ignorância, de forma que eu também tenho muito o que aprender... E crescer também.
Olho essa tarde chuvosa e vejo a água caindo sobre tudo. Essa água fará as plantas crescerem. E é assim que as coisas tem que ser.
O destino de tudo que é vivo é, até o derradeiro momento, crescer.
Cresçamos então.
E que a leitura possa nos ajudar nisso... Que tomemos posse da nossa herança cultural e possamos dizer algum dia as palavras de Sir Isaac Newton:"Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes".
Despeço-me de vocês deixando um conto e um filme baseado em um romance de Ray Bradbury. O conto se chama "O Pedestre" e fala sobre uma sociedade totalitária na qual as pessoas têm que ficar em casa vendo tv e o ato de andar torna-se um ato subversivo.
Já o filme, dirigido por François Truffaut, se chama Fahrenheit 451 e fala sobre um futuro sem livros. Montag (Oskar Werner) é um bombeiro designado para queimar livros proibidos até conhecer uma revolucionária professora que se atreve em lê-los. De repente ele se vê como um fugitivo caçado, forçado a escolher não apenas entre duas mulheres, mas entre sua segurança pessoal e a liberdade intelectual. Primeira produção de Truffaut em língua inglesa, o filme é uma fábula extraordinária em que a própria raça humana se transforma no terror mais assustador.
(Em tempo: Fahrenheit 451 é a temperatura necessária, em graus Fahrenheit, para se queimar um livro)
Eis o conto.
http://www.softaplic.com.br/~edesio/myself/hobbies/pedestre.html
Eis o filme.
Até o próximo Contraponto.
Post Scriptum: Descanse em Paz, Ray Bradbury. Obrigado pelas histórias maravilhosas.
Sentado em minha mesa, da janela do meu quarto contemplo, atrás de meu computador, o céu espesso plúmbeo de uma tarde nublada e chuvosa que recobre todo o céu que consigo vislumbrar daqui.
Hoje me senti triste por saber que Ray Bradbury, um dos meus autores favoritos, faleceu. Ele foi um dos meus companheiros em minha adolescência... Havia alguns livros dele na biblioteca da minha escola e, após ter lido todos os que lá estavam disponíveis, ao longo dos anos comprei outros livros que pude dele encontrar.
Havia, confesso, outro tema que estava sendo preparado para esta segunda coluna, mas a morte de Bradbury me fez mudar de idéia, de forma que resolvi abordar um novo assunto.
Esta coluna não é propriamente uma elegia à Bradbury. Não falarei aqui sobre a sua vida e, com duas pequenas exceções que guardo para o final deste Contraponto, também não falarei sobre as obras escritas por ele.
Quero, no momento, apenas evocar esta frase dele: "I spent three days a week for 10 years educating myself in the public library, and it's better than college. People should educate themselves - you can get a complete education for no money. At the end of 10 years, I had read every book in the library and I'd written a thousand stories".
Para aqueles que (ainda) não são versados na língua bretã, eis uma tradução livre: "Eu passei 3 dias por semana durante 10 anos me educando na biblioteca pública e isso é melhor do que a escola. As pessoas deveriam se educar por si mesmas - Você consegue uma educação completa sem gastar dinheiro algum. Ao término daqueles 10 anos, eu li cada livro daquela livraria e escrevi mil histórias".
Aonde quero chegar com tudo isso? Meu intuito é chegar a mais um ponto que é muito pouco explorado, ao meu ver, dentro da discussão do aprendizado musical: A importância de buscar não somente o aprimoramento musical, mas também o enriquecimento cultural através do contato com outras formas de arte e, em especial, com a literatura.
Eu me lembro, enquanto escrevo estas linhas, da Darcy, minha professora de redação no colégio e ela nos dizia sobre o texto padrão. De acordo com ela, o texto padrão é o conjunto que cada um de nós adquire e internaliza por meio das leituras que fazemos. Ela nos dizia para sempre lermos pois isso tornaria o ato de escrever mais fácil porque, ao se ter um texto padrão vasto, seríamos amparados e guiados por ele.
Em outras palavras, ela nos instruiu a sempre ler para que nós sempre tivéssemos o que dizer.
Pensem, meus caros, em alguém instruído na arte da oratória, alguém que seja um mestre consumado nesta arte.
A verdade é que mesmo um orador neste nível precisa ter o que dizer... Sem isso, sua arte não serve para nada.
E o mesmo se aplica para qualquer outro artista, ouso dizer.
Sendo assim, penso que qualquer músico se torna ainda melhor em seu ofício quando este decide se dedicar TAMBÉM à leitura das obras literárias que estão disponíveis para todos nós.
Ler é tomar posse do que é nosso, da nossa herança cultural. Ler é dialogar com as grandes mentes do presente e do passado. Ler é poder conhecer lugares que talvez nunca conheçamos pessoalmente. Ler é poder sermos outras pessoas. Ler é poder vislumbrar o futuro. Ler é ter contato com IDÉIAS ( E Einstein diria que nenhuma mente volta ao tamanho original após ter contato com uma idéia)
E, além de tudo isso, ler nos torna capazes de dizer o que quisermos porque ler nos dá o que dizer.
Se partirmos do postulado de que música é a arte de expressar emoções pelo som, como poderemos expressar emoções se não as conhecemos? Como poderemos falar com propriedade do amor intenso que floriu em meio ao ódio entre Montecchios e Capuletos se nunca lemos "Romeu e Julieta"?
Como poderemos conceber a tristeza de Orfeu pela perda de Eurídice sem ler o mito? Como poderemos mergulhar na obsessão de Ahab sem adentrar nas páginas de "Moby Dick"? Como poderemos falar de gigantes disfarçados de moinhos de vento sem conhecer as "As Aventuras do Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha"?
É preciso conhecer algo para poder ser capaz de falar deste algo e/ou expressá-lo da forma mais intensa, visceral e fideldigna possível.
Em suma, para dizer qualquer coisa, é preciso ter algo para dizer.
E como se obtem esse algo? Lendo.
E, sendo mais preciso e enfático, ler as obras em sua forma integral. Nada de versões resumidas.
Saber a história não é o bastante. É preciso embarcar em cada página, uma após a outra.
Sempre ilustro a diferença entre ler a obra integral e a versão resumida da seguinte forma: Quem conclui a obra integral escala uma montanha e chega ao topo dela. Quem lê a versão resumida vê uma foto do topo sem ter tido o trabalho de ter chegado até lá.
E há outra razão pela qual insisto na obra integral. Além dessa ser a forma concebida pelo autor, a leitura da obra em sua totalidade faz com que nós, músicos, exercitemos uma habilidade que muito nos é útil, uma habilidade que é cada vez mais rara nesses tempos googleanos: CONCENTRAÇÃO.
Música exige concentração, foco, disciplina. E a leitura de obras desafiadoras exige e nos ensina justamente isso.
Já notaram como geração google aparentemente é incapaz de ficar 5 minutos concentrada em alguma coisa? Como o conhecimento fica resumido apenas aos mares rasos da Wikipedia?
É isso o que queremos de nossa arte? Que ela seja rasa e sem foco?
Creio que não.
Enfim, a literatura não é apenas a cura para a ignorância e para o entorpecimento tão desejado por aqueles que nos governam. Ela também nos torna pessoas melhores.
E músicos melhores também, pois quem tem o que dizer pode realmente falar sobre o que quiser.
O estudo das letras de vários grupos mostra, em muitos casos, a existência de uma relação estreita entre música e literatura. Muitas bandas se valeram de assuntos literários para fazer as suas músicas.
Eis 3 exemplos práticos da relação música/literatura que divido com vocês.
1) Ramble On - Led Zeppelin
A letra menciona personagens e locais da trilogia "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien.
“How years ago in days of old
When magic filled the air,
T’was in the darkest depths of Mordor
I met a girl so fair.
But Gollum, and the evil one crept up
And slipped away with her.”
2) White Rabbit - Jefferson Airplane
A letra evoca o clássico "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll. Vale lembrar que Alice entra no País das Maravilhas após seguir o Coelho Branco (Personagem que dá nome para esta canção) e cair em um buraco.
“And if you go chasing rabbits
And you know you’re going to fall
Tell ‘em a hookah smoking caterpillar
Has given you the call
Call Alice
When she was just small.”
3)Don't stand so close to me - The Police
Esta música, inspirada pelo romance "Lolita" (De Vladimir Nabokov), trata sobre a atração de uma estudante por seu professor, mais velho do que ela. O livro chega a ser mencionado na letra.
“Loose talk in the classroom
To hurt they try and try
Strong words in the staffroom
The accusations fly
It’s no use, he sees her
He starts to shake and cough
Just like the old man in
That book by Nabokov.”
Poderia aqui evocar mais e mais exemplos indefinidamente, mas para os fins desta coluna, 3 já bastam. Aos interessados em buscar mais exemplos deixo esta lista que retirei dos mares rasos (Mas úteis) da Wikipedia.
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_songs_that_retell_a_work_of_literature
Esta lista (Em inglês) é um compêndio de músicas que sofreram influência de (ou recontam) obras literárias. A lista é vasta (Embora incompleta) e a leitura dela mostra o quanto foi importante para aqueles músicos terem o que dizer para poderem dizer o que eles queriam dizer... E como isso teria sido impossível se aqueles músicos nunca tivessem lido tais livros.
Notem que não estou partindo do princípio de que é preciso erudição para fazer obras musicais válidas. Ter contato com as grandes obras literárias não é uma condição sine qua non para que o resultado musical final alcance o cume da perfeição artística.
Muitas músicas de imensa qualidade são ou foram feitas por pessoas sem instrução formal ou mesmo analfabetas... Isso é um fato. Entretanto, vale lembrar que na grande maioria destes casos, os músicos em questão viveram (Ou vivem) imersos em um meio musical que é próprio do local geográfico habitado por estes músicos e estes músicos aprendem (Ou aprenderam) o seu ofício através do contato direto com a tradição musical daquele lugar, tradição que é passada geração após geração.
Neste caso, a ausência de instrução formal é suprida pelo contato com a tradição musical dos antepassados, tradição que, ao ser passada para a nova geração, se torna rediviva.
Entretanto, esses músicos pertencem a um mundo diferente do que aquele habitado pelos músicos desse fórum. Estamos em uma realidade fragmentada, multicultural e cheia de possibilidades, pois estamos expostos a um volume de informação dinâmica a todo momento.
Temos possibilidades que outras pessoas não tem. Devemos aproveitá-las, não?
Sendo assim, leiam mais. Arranjem tempo. Expandam seus horizontes. Sua arte florescerá, posso assegurar porque quem não tiver o que dizer terá o que dizer e quem já tem o que dizer terá ainda mais o que dizer.
Ray Bradbury disse certa vez que pior que queimar livros é não lê-los. Concordo com ele.
Vejam que não é a minha intenção me colocar acima de qualquer um aqui. Só eu sei o tamanho de minha própria ignorância, de forma que eu também tenho muito o que aprender... E crescer também.
Olho essa tarde chuvosa e vejo a água caindo sobre tudo. Essa água fará as plantas crescerem. E é assim que as coisas tem que ser.
O destino de tudo que é vivo é, até o derradeiro momento, crescer.
Cresçamos então.
E que a leitura possa nos ajudar nisso... Que tomemos posse da nossa herança cultural e possamos dizer algum dia as palavras de Sir Isaac Newton:"Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes".
Despeço-me de vocês deixando um conto e um filme baseado em um romance de Ray Bradbury. O conto se chama "O Pedestre" e fala sobre uma sociedade totalitária na qual as pessoas têm que ficar em casa vendo tv e o ato de andar torna-se um ato subversivo.
Já o filme, dirigido por François Truffaut, se chama Fahrenheit 451 e fala sobre um futuro sem livros. Montag (Oskar Werner) é um bombeiro designado para queimar livros proibidos até conhecer uma revolucionária professora que se atreve em lê-los. De repente ele se vê como um fugitivo caçado, forçado a escolher não apenas entre duas mulheres, mas entre sua segurança pessoal e a liberdade intelectual. Primeira produção de Truffaut em língua inglesa, o filme é uma fábula extraordinária em que a própria raça humana se transforma no terror mais assustador.
(Em tempo: Fahrenheit 451 é a temperatura necessária, em graus Fahrenheit, para se queimar um livro)
Eis o conto.
http://www.softaplic.com.br/~edesio/myself/hobbies/pedestre.html
Eis o filme.
Até o próximo Contraponto.
Post Scriptum: Descanse em Paz, Ray Bradbury. Obrigado pelas histórias maravilhosas.
Última edição por Zubrycky em Qua Jun 06, 2012 11:24 pm, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Reescrever... Não existe a Arte de Escrever Bem, existe a Arte de Reescrever.)
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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Ola caro colunista, parabens eu tambem fiquei triste com esta noticia, com todo sucesso do filme Fahrenheit 451, que vi no cinema eu nunca vi passar na tv! e a direçao do François Truffaut exelente.
Jefferson Airplane foi uma grande banda, outro dia vi um materia na tv americana com a Grace slick, esta irreconhecivel pelos sinais do tempo.
parabens colunista,
Jefferson Airplane foi uma grande banda, outro dia vi um materia na tv americana com a Grace slick, esta irreconhecivel pelos sinais do tempo.
parabens colunista,

Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Excelente Zubrycky...

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“Nenhuma quantidade de evidência irá persuadir um idiota”
(Mark Twain)
Cantão- Moderador
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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Caro Zubrycky...analogamente a você, minha professora de português da 5ª série, chamada Dona Marlene, que foi a impulsionadora e incentivadora de minha relação com os livros. Foi ela, que convenceu minha mãe a me dar um livro com a história que eu escolhesse, em troca pela leitura de um livro indicado por ela (ela só mandava José de Alencar, e com 10 anos, eu não suportava seu estilo de escrever...). Lembro-me dela até hoje, com carinho.
E pensar, que a média de livros lidos pelo brasileiro é de 4 por ano (2011), menor que a média de 2007 - 4,7/ano (http://oglobo.globo.com/educacao/brasileiro-le-em-media-quatro-livros-por-ano-revela-pesquisa-4436899).
Mais um excelente texto "meditativo"...preciso melhorar minha média com urgência
E pensar, que a média de livros lidos pelo brasileiro é de 4 por ano (2011), menor que a média de 2007 - 4,7/ano (http://oglobo.globo.com/educacao/brasileiro-le-em-media-quatro-livros-por-ano-revela-pesquisa-4436899).
Mais um excelente texto "meditativo"...preciso melhorar minha média com urgência

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Finou? Tá bão. O resto é dedo - CT. Colela.
Se traste fosse bom não tinha este nome - Cláudio Cuoco.
Tocar fretless é uma arte. Desafinar faz parte - Márcio Azzarini.
Quando o mundo da música muda, os muros da cidade tremem - Platão.
Tarcísio Caetano- Membro
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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
dj jorge cafe escreveu:Ola caro colunista, parabens eu tambem fiquei triste com esta noticia, com todo sucesso do filme Fahrenheit 451, que vi no cinema eu nunca vi passar na tv! e a direçao do François Truffaut exelente.
Jefferson Airplane foi uma grande banda, outro dia vi um materia na tv americana com a Grace slick, esta irreconhecivel pelos sinais do tempo.
parabens colunista,![]()
Obrigado por passar aqui, meu Caro!
Eu também não me lembro de ter visto Fahrenheit 451 (Excelente filme, mas diferente da livro, que também é excelente) passar na tv aberta... Se bem que algo em minha memória me insiste em dizer que vi esse filme na TV Cultura, numa desses fins noites de sábado dedicados ao Cinema, mas não tenho certeza (Isso faz muito tempo). Já vi esse filme no Telecine Cult, no entanto.
Realmente, quanto à Grace Slick, o tempo nos marca a todos... E, dependendo das paixões, aventuras e excessos, o tempo marca uns mais do que outros, pelo visto...
Cantão escreveu:Excelente Zubrycky...![]()
Obrigado, meu Caro!
Tarcísio Caetano escreveu:Caro Zubrycky...analogamente a você, minha professora de português da 5ª série, chamada Dona Marlene, que foi a impulsionadora e incentivadora de minha relação com os livros. Foi ela, que convenceu minha mãe a me dar um livro com a história que eu escolhesse, em troca pela leitura de um livro indicado por ela (ela só mandava José de Alencar, e com 10 anos, eu não suportava seu estilo de escrever...). Lembro-me dela até hoje, com carinho.
E pensar, que a média de livros lidos pelo brasileiro é de 4 por ano (2011), menor que a média de 2007 - 4,7/ano (http://oglobo.globo.com/educacao/brasileiro-le-em-media-quatro-livros-por-ano-revela-pesquisa-4436899).
Mais um excelente texto "meditativo"...preciso melhorar minha média com urgência![]()
Realmente te entendo, meu Querido... Professores e professoras são seres capazes de nos abençoar pela vida inteira...


José de Alencar é um autor difícil de ser lido, ainda mais por uma criança. O estilo dele é típico do folhetim romântico impresso nos jornais do século XIX... Rebuscado e muito, muito descritivo. É importante ter em mente que esse tipo de literatura era o rádio da época (Por isso tanta ênfase na descrição).
Há autores mais apropriados para uma criança ler.... Monteiro Lobato é o exemplo clássico disso.
É realmente uma pena que a média de leitura do brasileiro tenha caído tanto.

Isso me faz relembrar uma frase de Bradbury que já foi citada no segundo Contraponto: "Pior que queimar livros é não lê-los".
Que a sua ampliação da sua média anual de leitura de livros lhe traga muito saber e conhecimento!

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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Enquanto o Terceiro Contraponto não surge, eis alguns adendos que julgo necessários ao Segundo Contraponto.
1) Relendo o artigo, percebi que meus exemplos podem dar a ilusória impressão de que a influência da literatura na composição musical se dá apenas em músicas com letras, ou seja, que apenas letras (e não melodias) recebem idéias oriundas de livros.
Ledo engano. A literatura também influencia a composição de canções instrumentais.
Como exemplo, mostro um vídeo de uma canção instrumental do Metallica chamada "The Call of Ktulu", música inspirada pelo conto "The Call of Cthulhu", escrito pelo grande H.P. Lovecraft.
As imagens desse vídeo, por sinal, são de "The Call of Cthulhu", um filme mudo baseado no conto "The Call of Cthulhu" de Lovecraft, feito em 2005 pela HPLHS (The H. P. Lovecraft Historical Society).
Aos curiosos, o conto se encontra aqui.
2) Eis aqui uma palestra que Bradbury deu em 2001. Aos que sabem inglês, este é um vídeo repleto de conselhos valiosos para aqueles que querem se aventurar no reino da escrita.
1) Relendo o artigo, percebi que meus exemplos podem dar a ilusória impressão de que a influência da literatura na composição musical se dá apenas em músicas com letras, ou seja, que apenas letras (e não melodias) recebem idéias oriundas de livros.
Ledo engano. A literatura também influencia a composição de canções instrumentais.
Como exemplo, mostro um vídeo de uma canção instrumental do Metallica chamada "The Call of Ktulu", música inspirada pelo conto "The Call of Cthulhu", escrito pelo grande H.P. Lovecraft.
As imagens desse vídeo, por sinal, são de "The Call of Cthulhu", um filme mudo baseado no conto "The Call of Cthulhu" de Lovecraft, feito em 2005 pela HPLHS (The H. P. Lovecraft Historical Society).
Aos curiosos, o conto se encontra aqui.
2) Eis aqui uma palestra que Bradbury deu em 2001. Aos que sabem inglês, este é um vídeo repleto de conselhos valiosos para aqueles que querem se aventurar no reino da escrita.
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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Muito bom texto Zubrycky, também acho que ler é muito importante para todos nós, pois nos faz crescer não só intelectualmente, mas também nos faz crescer como pessoas, torna possível uma nova compreensão do mundo. Parabéns pelo texto. 

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"In the end it is all about music, the instrument we play is secondary." - Andres Rotmistrovsky
Lucas94- Membro
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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Me veio na cabeça o filme Equilibrium, de 2002... a cena qdo o Clerigo friamente manda queimar a Monalisa me abala até hj...Zubrycky escreveu:Já o filme, dirigido por François Truffaut, se chama Fahrenheit 451 e fala sobre um futuro sem livros. Montag (Oskar Werner) é um bombeiro designado para queimar livros proibidos até conhecer uma revolucionária professora que se atreve em lê-los. De repente ele se vê como um fugitivo caçado, forçado a escolher não apenas entre duas mulheres, mas entre sua segurança pessoal e a liberdade intelectual. Primeira produção de Truffaut em língua inglesa, o filme é uma fábula extraordinária em que a própria raça humana se transforma no terror mais assustador.
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GusVCD- Moderador
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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
GusVCD escreveu:Me veio na cabeça o filme Equilibrium, de 2002... a cena qdo o Clerigo friamente manda queimar a Monalisa me abala até hj...Zubrycky escreveu:Já o filme, dirigido por François Truffaut, se chama Fahrenheit 451 e fala sobre um futuro sem livros. Montag (Oskar Werner) é um bombeiro designado para queimar livros proibidos até conhecer uma revolucionária professora que se atreve em lê-los. De repente ele se vê como um fugitivo caçado, forçado a escolher não apenas entre duas mulheres, mas entre sua segurança pessoal e a liberdade intelectual. Primeira produção de Truffaut em língua inglesa, o filme é uma fábula extraordinária em que a própria raça humana se transforma no terror mais assustador.
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Nunca vi esse filme, mas fiquei muito interessado nele... Assistirei quando puder... Obrigado pela dica!
Realmente essa cena da destruição da Monalisa, mesmo tendo sido vista por mim agora pela primeira vez, também é muito marcante para mim... E explico: É engraçado como as coisas (E as sincronias da Vida) são, meu amigo, pois Ray Bradbury escreveu um conto sobre esse mesmo assunto.
O conto se chama "O Sorriso" e pode ser lido aqui.
Espero que você goste.
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Re: Segundo Contraponto: Aonde o autor tece uma crônica de alma marciana nas asas de uma tarde chuvosa.
Muito bom o texto, gostei muito! Gosto de ler, mas sempre cai naquela desculpa de não ter tempo, o que não é verdade, se analisarmos nosso dia a dia. Essa coluna me incentivou a ler mais, valeu por isso amigo.
Lí o pedestre, e fiquei meio no ar, mas entendi a idéia. Preciso ler com mais calma prá sacar melhor.
Esse filme, Fahrenheit 451, se não me engano passou na cultura tempos atrás. Assistí um trecho e achei muito legal, preciso assistir novamente inteiro. Acho que lí sobre esse diretor no livro do Márcio Borges, que fala sobre o clube da esquina.
Grande abraço!
Lí o pedestre, e fiquei meio no ar, mas entendi a idéia. Preciso ler com mais calma prá sacar melhor.
Esse filme, Fahrenheit 451, se não me engano passou na cultura tempos atrás. Assistí um trecho e achei muito legal, preciso assistir novamente inteiro. Acho que lí sobre esse diretor no livro do Márcio Borges, que fala sobre o clube da esquina.
Grande abraço!
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Carlos Diego- Membro
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