Mixagem e Masterização

Apesar de serem dois termos bastante conhecidos, mixagem e masterização são dois processos bem diferentes e que ainda geram dúvidas em algumas pessoas. Vou falar um pouco sobre a importância de cada um deles para o resultado final de um trabalho de gravação.


MIXAGEM


Em linhas gerais, a Mixagem é o processo de “mistura” dos canais que foram gravados. Mais que isso, o técnico de áudio responsável por mixar um trabalho acaba de fato definindo (junto com o produtor e o artista) a concepção sonora daquela música.O que é concepção sonora? É a forma como percebemos os sons que compõem um arranjo musical. Para cada elemento presente é possível definirmos várias situações, como por exemplo: intensidade, timbre, ambientação, profundidade, dinâmica, panorama sonoro, etc.
Vamos supor que uma música tenha o arranjo formado por bateria, baixo acústico e piano, e que durante a gravação tenham sido utilizados vários microfones captando cada tambor, alguns para os sons de sala, dois ou três para o contrabaixo, e alguns pares para o piano. Quando a música estiver pronta para ser mixada, o técnico usará um sistema para abrir esses canais individualmente (de forma analógica ou digital) e, assim, poderá manipular cada som isoladamente.

Durante o trabalho de mixagem podem ser usados vários tipos de efeitos e processadores: equalizadores diversos, processadores de dinâmica, reverbs, delays, modulações, redutores de ruído, simuladores, e muitos outros. Cada efeito geralmente é aplicado nos canais ou em subgrupos, criados para receber o sinal vindo de vários canais, de forma que os efeitos atuem em várias fontes sonoras ao mesmo tempo.

Usando uma série de técnicas, processos, e uma grande dose de gosto pessoal, chega-se ao resultado final, a músic mixada! O formato final varia em função do destino dessa mixagem, os mais comuns são: para CD o formato será em Estéreo (dois canais, direito e esquerdo), para DVD poderá ser em 5.1 surround ou algum outro formato multicanal.

Antes que essa música possa fazer parte de um CD ou DVD, ela precisa passar ainda por mais uma etapa, o que nos leva ao próximo ítem.


MASTERIZAÇÃO


Masterizar significa gerar a “Matriz” de áudio que será duplicada em processo industrial. Inicialmente, na época do vinil, era fundamental que houvesse um profissional pra ajustar o nível do sinal que seria gravado no acetato, para que a agulha não pulasse ao ler o vinil. Com a chegada do CD esse processo foi adaptado e acabou recebendo o nome de masterização.

Tecnicamente o CD é bem diferente do vinil em vários aspectos, por isso o trabalho do masterizador consiste em uniformizar as faixas de um disco sob o ponto de vista de volume e dinâmica, equilibrio de frequências, imagem estéreo, além de determinar o tempo de separação entre as faixas. Para realizar esse processo são usadas ferramentas bastante precisas, geralmente específicas para masterização, como equalizadores lineares, compressores, limiters, exciters, reverbs, delays e também conversores digitais de alta fidelidade, já que nessa etapa é feita a conversão final dos arquivos que irão para a fábrica de reprodução.

Atualmente a masterização também é vista como um processo artístico e, apesar das limitações - durante a masterização não é mais possível mudar cada timbre individualmente - ainda é possível trazer benefícios para o arranjo, seja dando maior clareza aos timbres, ou contribuindo para a dinâmica da música, deixando a audição do disco mais agradável e fluindo melhor.



Aproveito para deixar algumas sugestões de trabalhos que são referência no assunto:


- Nightfly (Donald Fagen), mixado por Elliot Scheiner e masterizado por Bob Ludwig
- Thriller (Michael Jackson), mixado por Bruce Swedien e masterizado por Bernie Grundman
- Two against nature (Steely Dan), mixado por Roger Nichols/ Elliot Scheiner e masterizado por Scott Hull
- Safe trip home (Dido), mixado por Jon Brion, Greg Koller e Jim Scott e masterizado por Alan Yoshida
- The Black album (Metallica), mixado por Michael Wagener e Mark Wilzcak e masterizado por George Marino

Excelente, joabi.
Texto claro, informações objetivas e tudo colocado de maneira inteligível.
Minha primeira aula sobre estes assuntos

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Certa vez ouvi um disco de uma banda mixado.
Depois de um tempo ouvi o mesmo disco masterizado, não sei explicar mais o som masterizado parece que "salta" dos auto-falantes indo diretamente aos ouvidos, enquando o mixado fica "preso" nos auto-falantes.
É dificil explicar em palavras, mas, foi essa a sensação que tive.

Parabens Joabi, informação objetiva e clara

Valeu, pessoal. Comentem as experiências de vocês também, principalmente quem já gravou e pôde comparar a versão antes e depois da master.

siodoni escreveu:Certa vez ouvi um disco de uma banda mixado.
Depois de um tempo ouvi o mesmo disco masterizado, não sei explicar mais o som masterizado parece que "salta" dos auto-falantes indo diretamente aos ouvidos, enquando o mixado fica "preso" nos auto-falantes.
É dificil explicar em palavras, mas, foi essa a sensação que tive.

siodoni, qual era o estilo do disco que você ouviu? Era rock? Entendi perfeitamente qual foi sua sensação, provavelmente foi devido à compressão e volume, e talvez um pouco devido aos agudos, que tendem a ficar mais presentes depois da master, trazendo um pouco de "ar" para o disco.

Bacana o texto. Minha banda de rock ta gravando, e o dono do estúdio quando perguntado sobre a masterização, disse isso também. Nela ele faz a compressão mais pesada e incorpora as dezenas de trilhas mixadas individualmente nos dois canais estéreo.

Muito bom o texto, simples e direto!

Acho que a Mixagem é um processo artístico e a Masterização, técnico!

Muito bacana! Simples e direto ao ponto!!!

Parabéns pelo texto, meu Caro, e que venham muitos outros mais!

Joabi, é possível fazer uma masterização em um home studio???

Digo, existem softwares free para tal???

Minha banda está gravando uma demo em um home ... e gostaria de saber se dispomos desta possibilidade...

Valeu!!!

KIQ, acho que para uma demo não existe muito problema. Pra um disco a situação já muda um pouco de figura.

A questão principal é que um estúdio de master geralmente tem uma monitoração muito diferente dos homestudios (estou falando dos bons estúdios de master), e isso, junto com a experiência do masterizador, na minha opinião é o que faz toda a diferença, mais até que os periféricos e plugins usados.

É possível fazer uma master com o mesmo software que foi usado pra mixar no homestudio, e até usando caixas pequenas, mas isso provavelmente vai exigir mais do profissional (experiência e algumas audições extras fora do estúdio) pra se certificar que tudo está OK.

Algumas fábricas de prensagem oferecem o serviço de master incluso na duplicação de CD (como a MCK, por exemplo, que trabalha com a SonoPress), mas é uma master bem básica. Mesmo assim, prensar 1000 cópias costuma ser muito pra um CD demo.

No fim tudo vai depender do orçamento disponível. Geralmente quando chegam ao final, os projetos já estão com orçamento estourado.
Sou da opinião que mixar bem é mais importante que masterizar em estúdio de griffe, então use o dindin disponível pra deixar as músicas como querem já no processo de mix.
Se no final houver um pouco de verba sobrando, a master feita em estúdio especializado costuma compensar o investimento e fecha o trabalho com chave de ouro.

joabi escreveu:Valeu, pessoal. Comentem as experiências de vocês também, principalmente quem já gravou e pôde comparar a versão antes e depois da master.

siodoni escreveu:Certa vez ouvi um disco de uma banda mixado.
Depois de um tempo ouvi o mesmo disco masterizado, não sei explicar mais o som masterizado parece que "salta" dos auto-falantes indo diretamente aos ouvidos, enquando o mixado fica "preso" nos auto-falantes.
É dificil explicar em palavras, mas, foi essa a sensação que tive.

siodoni, qual era o estilo do disco que você ouviu? Era rock? Entendi perfeitamente qual foi sua sensação, provavelmente foi devido à compressão e volume, e talvez um pouco devido aos agudos, que tendem a ficar mais presentes depois da master, trazendo um pouco de "ar" para o disco.

O disco que ouvi foi da banda RodHanna de Ribeirão-Preto.
É uma banda de disco/soul, muito boa!
É muito diferente ouvir uma musica mixada e logo em seguida ela masterizada.

Joabi, seria legal, se possível, colocar alguma música que você tem no estudio em 3 etapas: pre-mix (aquela bagunça toda), mixado e masterizado!

Pensei nisso também, mas envolve questões de autorização do artista. Vou ver se consigo algo ou preparo algum material meu mesmo.

^Verdade! Se quiser, pega aqueles que coloquei no "Faça sua mix", ou algo assim... acho que dão bons exemplos!

Verdade, talvez eu ainda tenha um deles.

Interessante Joabi ... poderia avaliar um trabalho???

Esse site, é do home studio que estamos gravando ... é um home, mas levado a sério ... e o dono, o Bruno, é muito prestativo!!!

No site tem algumas musicas que ele gravou, mixou e masterizou ... realmente isso é um resultado aceitável pra um home???

http://www.casinhadorec.com/

KIQ escreveu:Interessante Joabi ... poderia avaliar um trabalho???

Poxa, quem sou eu pra fazer isso... e também não acho ético avaliar o trabalho de outro colega num fórum aberto, sem conhecer a proposta dos trabalhos, a estrutura disponível, enfim...

O que posso te orientar é que se está sendo bem atendido e gostando do resultado obtido, vá em frente, tá tudo certo! Tem muita gente boa trabalhando na área

Uma coisa que percebi de masterização, é que, ela define, dentro de um carro por exemplo, onde vai "aparecer" o som do solo da guitarra ou se a virada da bateria terá a sensação de ser da esquerda para direita ou da direita para esquerda.
Ou seja, a masterização é que dá um efeito tridimensional no som.

Maurício, que bom ter você participando aqui (e trazendo sua experiência secular kkk).

Olha só, isso que você notou eu geralmente prefiro definir já na mixagem. Na master o controle sobre esse tipo de coisa é mais restrito, pois o masterizador já não consegue mudar apenas um instrumento sem mudar também os demais, e o trabalho é feito por regiões de frequência diferentes.

O que é muito comum, entretanto, é que a master determine qual a extensão do estéreo, ou seja, o quanto os instrumentos podem ficar afastados do centro.

Vou dar como exemplo um trabalho que mixei recentemente, de um trio de choro e maxixe, onde minha concepção foi deixar, na mixagem, o estéreo um pouco mais fechado, para homenagear aquela sonoridade de vinil, tão típica do gênero, só que mesmo assim mantive uma sonoridade mais moderna nos timbres.
Esse trabalho foi masterizado por Homero Lotito, um engenheiro de master que trabalha bastante com esse estilo musical. Felizmente ele manteve minha proposta, e gostei do trabalho de master.

No site do grupo tem algumas músicas pra exemplificar. As músicas "Choro com dendê" e "Pequeno Jorge" mostram bem esse tipo de sonoridade que eu mencionei:

http://www.conjuntosubindoaladeira.tnb.art.br/

Abraço

nas capas dos cds sempre vem escrito quem fez a mixagem e masterização, mas não sabia o que era. gostei muito da sua explicação. apendi que a musica deve passar por um processo bem trabalhado até chegar aos ouvidos que passa por bons musicos,equipamentos e pessoas que irão trabalhar com esse áudio da melhor forma possível.

^ resumiu meu texto em 3 linhas, Timão!
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