Qual o título?

Música instrumental. Adoro. Desde pequeno. Gosto muito de compor. Estou sempre cavocando alguma coisa.
Sempre pensei na música como música, nunca como música que está descrevendo alguma coisa. Essa discussão eu tinha muito com meu pai, amante de música erudita, que às vezes vinha me mostrar como o autor estava descrevendo uma paisagem ou um acontecimento. Eu dizia que preferia apreciar a música com aquilo que meus ouvidos estavam escutando, com a minha vivência e perspectiva, não como deveria escutar, apesar de achar curioso e interessante saber como o compositor chegou àquelas ideias.
Uma coisa sempre me intrigou. Como os autores colocam os títulos em suas músicas? Fora aquelas coisas como homenagens do tipo "Pro Zeca", no meu caso, tenho uma dificuldade muito grande. Acabo usando coisas aleatórias, como "vou pra lá" ou "cheguei aqui" e por aí vai. Às vezes coloco números.
O grande Moacir Santos compôs as famosas "Coisas" ... pelo visto não sou o único a ter um problema com nomes!
Claro que o que importa é a música, o título tanto faz, mas fico curioso em saber sobre variadas perspectivas sobre o tema.
Abs!

Acho que sou como seu pai

Mas dentre os músicos clássicos tem os dois times também, tem os que "música é só música mesmo", e tem os "a música tem que incutir sensações e descrever cenários"

E, na verdade eu acho que da pra fazer dos dois jeites, tem musica só pra dançar e pronto, tem música pra te abstrair da musica e prestar atenção na letra... Tem musica que não precisa de letra pra contar história...

So que, falando do tópico. Se a música "é só a musica" realmente é dificil colocar nomes...

Da pra nomear as musicas de dois jeitos também, tipo "As Quatro Estações", ou "Suite #3 em Dó Maior"

ˆMuito obrigado!

O mais prático é pedir pra alguém ajudar.

Coloque pra tocar, peça pra uma pessoa do sexo feminino (elas são melhores nisso) ouvir e descrever o que elas sentem ou imaginam ao ouvir aquela música. Daí devem sair títulos bons.

ˆBoa!

Na minha família sempre teve isso, de "música descritiva" (se é que posso usar esse termo), no campo da música erudita. Compositores como Saint-Saens, Tchaikóvski. Beethoven, etc.
Me lembro bem de, quando criança, meu avô (que cantou no coro do Teatro Municipal do RJ com Villa-Lobos) ouvindo essas músicas e procurando me fazer "ver" como esses compositores estavam "descrevendo" uma paisagem ou fato histórico.
"Carnaval dos Animais", "Abertura 1812", "A Heróica" (Sinfonia nº 3), "A pastoral" (Sinfonia nº 6), só para citar as obras dos compositores acima, sempre estarão em minha memória musical e afetiva...
Quanto à imposição de títulos... Não sou compositor, portanto não posso opinar. Mas a dica do Allex é boa... (acho que o Santana falava algo análogo...).

ˆJóia!

Eu me amarro nos nomes de choros

Bem te vi atrevido
André de sapato novo
Ingenuo
e outros

bodhan escreveu:Como os autores colocam os títulos em suas músicas?

Bodhan, por mais que isso pareça clichê, ouça as 4 estações de Vivaldi. Na minha opinião é o exemplo perfeito.

Outros bons exemplos são "For the love of God" do Vai (não tenho dúvida de que a música fala exatamente sobre o título) e Brasileirinho.

Teve uma época da minha vida que ouvi muito Keny G. Quase todos os títulos de música dele são bem colocados em relação ao "clima" das músicas e ao que elas transmitem.

Obrigado, Henri.
Meu pai amava Vivaldi. Escuto as 4 estações desde que nasci!
E sempre conversava com ele de que não via a menor relação do título com a música! Ou melhor, para mim não faz a menor diferença o título!
Acho que música é música, não é pintura.
Acho que escrevi muito no tópico e talvez não tenha deixado claro que o objetivo é saber dos amigos daqui do fórum como cada um sente esta questão dos títulos das músicas e assim compartilhar como cada um percebe isso!
O que você tem a dizer, Henri?
Abração!

bodhan escreveu:Obrigado, Henri.
Meu pai amava Vivaldi. Escuto as 4 estações desde que nasci!
E sempre conversava com ele de que não via a menor relação do título com a música! Ou melhor, para mim não faz a menor diferença o título!
Acho que música é música, não é pintura.
Acho que escrevi muito no tópico e talvez não tenha deixado claro que o objetivo é saber dos amigos daqui do fórum como cada um sente esta questão dos títulos das músicas e assim compartilhar como cada um percebe isso!
O que você tem a dizer, Henri?
Abração!

Eu tenho uma relação praticamente audiovisual para a música. Penso exatamente como você descreve seu pai. Pra mim a música cria lugares, paisagens e não somente sensações; e ainda acho que isso extrapola a música instrumental.

Complementando...

Veja por exemplo as músicas de inspiração religiosa, como têm o poder de te transportar para onde quer o compositor:

bodhan escreveu:Obrigado, Henri.
Meu pai amava Vivaldi. Escuto as 4 estações desde que nasci!
E sempre conversava com ele de que não via a menor relação do título com a música! Ou melhor, para mim não faz a menor diferença o título!

Sério mesmo que você nao consegue ver o desenrolar das estações, os passáros, o felino correndo atras de uma lebre?


Eu imaginava essas coisas antes de saber o nome da musica... é uma espécie de "sinestesia"... mas, enfim... vai ver está aí o ponto de cisão das duas frentes de discussão

Outro exemplo que eu dou dessa coisa de "a musica falar", o solo de hammond da música Burn... se aquilo não é uma fogueira, nada mais é

Bacana! Legal saber como a música impacta em cada um!
Estou aguardando mais depoimentos!
...ps não estou fazendo nenhum trabalho acadêmico, é curiosidade mesmo!

Chega a ser filosófico né?
"Você enxerga o azul como eu enxergo o azul? Nós dois convencionamos chamar isso de azul, mas nós vemos ele igual?"

Tenho uma ligação com a harmonia e associo as construções harmônicas às sensações mais rudimentares, mais básicas. Tipo, "triste", "alegre", "surpreso" e por aí vai. Por isso digo que não "vejo" música, sinto essas coisas mais básicas. Talvez o aspecto psicológico é o que prevalece para mim.

tbm nao sei mto bem como entender essas coisas de nomenclatura, mas com um pouco mais de experiencia, eu comecei a entender como os sons e notas em uma composição se intercalam, pra gerar sensações, umas alegres, outras mais introspectivas, algumas um pouco mais desesperadoras.. muitas vezes os titulos costumam fazer certas analogias entre as sensações que a musica passa, e algum acontecimento ou paisagem que o cerebro associa a essa sensação.. uma música em tons maiores lembrar um por de sol numa praia ou uma sensação de conforto ou alegria, ou uma musica em tons menores lembrar uma noite mais soturna, sons em sétima me lembrarem algumas galhofadas ou ares mais comicos.... nao sei como explicar, mas parece que muitas vezes os nomes se associam a coisas desse tipo, pode até ser mais simples do q se imagina... por isso eu nem sinto falta de leta em musica, mto menos necessidade. acho bem plausivel uma musica instrumental contar uma historia e ter um titulo associado a isso, por mais que pessoas diferentes possam interpretar a mesma musica e atribuir titulo de forma diferente.

Stormbringer escreveu:Eu imaginava essas coisas antes de saber o nome da musica... é uma espécie de "sinestesia"... mas, enfim... vai ver está aí o ponto de cisão das duas frentes de discussão

sinestesia!!
exatamente, parece que alguns tipos de sons se associam a alguns tipos de imagem, e, mesmo sem titulo se torna auto-explicativo

Legal essa colocação bodhan.
Acho que o nome de uma música instrumental deve ser a primeira coisa que vem a mente quando você escuta essa música a primeira vez.
Seja lá o que venha!
Hehehehe.

Meu cunhado que é fera nisso , faz prog instrumental e dá cada nome show !

Me lembrei agora que há tempo vi um documentário sobre pessoas especiais que sentem gosto com estímulo sonoro. Todos se reuniam regularmente para assistir concertos e depois relatarem os sabores. Incrível!

Li uma vez acho que numa Cover Guitarra um artigo de um guitarrista que chamava esse acorde de tortura chinesa da água. Tipo um cara imobilizado no chão com uma pequena gota de água caindo na testa. Depois de algumas horas a sensação deve ser de extrema agonia e cada gota deve pesar uma tonelada.

Sugiro tirar o velho violão de cima do guarda-roupa e fazer o teste. Tem que tocar arpejando lentamente (e deixar soar) para sentir cada nota rsrsrs.

E------------0
B---------6---
G-------0-----
D-----6-------
A---0---------
E -6----------

Henri-Q escreveu:...Teve uma época da minha vida que ouvi muito Keny G...

Tb, já tive épocas terríveis, em minha vida...




No geral, não ligo muito para o título de obras, sejam elas livros, músicas, filmes...

fheliojr escreveu:

Henri-Q escreveu:...Teve uma época da minha vida que ouvi muito Keny G...

Tb, já tive épocas terríveis, em minha vida...

Reconheço que é cafona e anacrônico, mas diga isso pro meu gosto musical.

fheliojr escreveu:

No geral, não ligo muito para o título de obras, sejam elas livros, músicas, filmes...

Eu ligo cara... você pegar um livro com um conteúdo bacana mas com um nome horrível como o Dale Carnegie "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas" é bem estranho. Nesse caso em específico, sem conhecer o teor do livro você lê o nome e intui que seja algo como "Como manipular a galera e ser fodão "

Belo tópico!

Bom, volta e meia eu componho instrumentais ou a banda na qual toco compõe coletivamente algum (Casos do Gooks, Je Suis Marie e Los Índios).

Quanto ao nome, depende da música... Quando eu sou o autor da instrumental, geralmente o nome vem ou de alguma imagem que o tema me provoca depois de composto ou por algum fato referente à inspiração por trás deste tema.

Por exemplo, no primeiro cd do Gooks há duas instrumentais, "4AZ" e "Labyrinth". A primeira é um solo de baixo composto por mim e a segunda, um velho tema dos anos 90 oriundo da época na qual o baterista e o guitarrista da banda tocavam em outro grupo.

"4AZ" é um tema antigo meu, também composto nos anos 90 e que não teve nome algum até ser gravado na segunda sessão de gravações de "Revenge of the Gooks". O nome - inventado por mim um pouco antes da gravação e após uma longa deliberação íntima sobre as lembranças que tenho ao compor este tema - é uma sigla quer dizer "Para Alejandro Zubrycky" (Em inglês a sigla é For - palavra que na língua bretã tem a mesma sonoridade de "four", 4 - Alejandro Zubrycky). "Labyrinth" foi intitulada pelo Edson, baterista do grupo e nomeador oficial de instrumentais da banda (Que são composto às pencas pelo Gooks em nosso processo criativo, ainda que muitos deles nunca ultrapassem o estágio de mero rascunho musical).

Voltando ao nome "4AZ", a razão pela escolha dele é a seguinte e é pessoal: Compus esse solo nos anos 90, na sala do sítio, escrevendo-o em um caderno de música, em um dia em que lá estive sozinho com o meu finado e saudoso avô paterno, Alejandro Zubrycky. Tocar esse solo sempre me faz lembrar dele, com saudades.

O segundo cd do Gooks - que já tem 7 músicas finalizadas e será lançado assim que gravarmos mais algumas músicas - terá 4 instrumentais ("Conflicts", "Spirit of Sound", "Heart Attack" - essas nomeadas pelo Edson - e "The Joker", essa mais um solo de baixo, que foi composto por mim após eu ter visto o primeiro trailer do filme "Coringa", experiência que me comoveu e me inspirou a escrever esse solo, que não poderia não ter esse nome).

Esse papo sobre nome de instrumentais me fez lembrar desse vídeo no canal do Willy Verdaguer.

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Boa Zubrycky... verdade é que é preciso saber abstrair um pouco... na maioria dos casos dá certo. Em alguns, tem que tomar algumas doses de Gim para chegar no raciocínio do dono da coisa

Henri-Q escreveu:...ouça as 4 estações de Vivaldi. Na minha opinião é o exemplo perfeito.

Ao ler isso, pensei ao contrário, onde as estações que serviram de inspiração para a musica, como exemplo, gosto muito da suite do Gustav Holst, Planets, mas pensando melhor, a descrição do planeta acaba influênciando mais. Bom, fica a recomendação.

Bela dica!

E por falar em The Planets, eis aqui uma curiosidade: O primeiro movimento deste suíte, "Mars, The Bringer of War", teve uma grande influência sobre o riff icônico da música "Black Sabbath".

Com a palavra, Geezer Butler.