A Saga de Meus Óculos Escuros

Tenho uma grande sensibilidade à luz.
Era míope e usava óculos de grau foto cromáticos (aqueles que se escurecem com o aumento da claridade).
Era míope, pois no ano 2.000 livrei-me “dos fundos de garrafa” graças a uma operação a laser, mas a sensibilidade à claridade se manteve.

Isso era previsto e a recomendação de comprar óculos escuros sem graus estava entre as providências exigidas pelo oftalmologista.
Mesmo com curativo pós-operatório, óculos escuros seriam necessários imediatamente após cirurgia.

Passei num shopping a caminho do consultório e não achei algo que me deixasse satisfeito (tanto em termos estéticos, como em termos monetários).

Só havia óculos modernosos e eu, quarentão, queria algo mais discreto e condizente com minha condição senil.
Sem opção e tempo, tive que comprar o mais barato (que para mim ainda era caríssimo) e fui para a minha operação.

Frases do tipo “que óculos estiloso cara!” e “Você é mafioso?” passaram a ser lugar comum em minha vida. Mas trocar de óculos estava fora de questão.
Teria que amortizar o investimento em 12 suadas prestações!
Usaria esses óculos até eles acabarem!

As pernas que riscam as lentes ao se fechar, foi só o prenuncio de que a nossa convivência seria tensa.

Percebi também que ao se suar, os óculos descem pelo nariz, e para repô-lo ao lugar correto, tenho que balançar a cabeça olhando para o céu, se não posso usar as mãos.
E isso sempre acontece quanto toco contrabaixo.
A figura de Stevie Wonder me vem a cabeça quando uso esses óculos nos shows de minha banda de rock... E ai os comentários são:
___ Nossa, como você viaja quando toca, cara!
Fico quieto, mas deveria responder: não é isso, é que o meu maldito óculos escorrega pelo nariz e não posso usar as mãos para reposicioná-lo!

Por isso uso-os apenas para ir ao escritório, o ar condicionado ajuda a diminuir a sudorese.

7 anos se passam, e chegando de uma viagem noturna de Curitiba percebo que deixei esses óculos na casa de meu filho.
Tive que comprar outro. Mais bonito e por menos da metade do preço.

Mas me incomodava deixar óculos assim tão caros (mesmo sendo horríveis) perdidos.

Ligo por desencargo de consciência para meu filho uma semana depois:
___ Filho, deixei meus óculos escuros na sua casa.
___ Acho que não pai. Ajudei a mulher na faxina ontem e não estão aqui.

Fazendo uma revisão mental de onde poderia tê-lo esquecido concluo que caiu do bolso interno da jaqueta quando joguei-a na escrivaninha do computador. Ele escorregou pela jaqueta, caiu da escrivaninha, bateu nos fios do computador e pulou para trás do guarda roupa.

Então digo ao telefone:
___ Estão atrás do guarda roupa do quarto de hóspede!

15 minutos depois meu filho retorna a ligação:
___ Estavam lá mesmo! Por que você o escondeu lá? Você estava louco, pai?
Não perdi tempo em explicar, apenas falei que na próxima viagem (que seria apenas no próximo ano) eu os pegaria.

Um ano se passou e a segunda coisa que pergunto ao chegar em Curitiba em nova visita ao meu filho é onde estão meus famigerados óculos escuros.

___ Pai, na semana seguinte que você me ligou, encontrei um colega que mora na sua cidade e dei os óculos para ele te entregar. Ele não o fez?

Fiquei sem os óculos feios pensei. Senti uma sensação estranha: alívio e tristeza.

Mas 3 meses depois aparece em casa meu filho, e passa alguns dias numa agradável visita.

Antes de ir embora, me entrega os óculos:
___ Pai: passeava pela cidade e encontrei o amigo que ia te entregar os óculos. Peguei-os e estão aqui!

Após mais de 1 ano, os óculos pródigos estavam de novo em minhas mãos. Não sei o que senti na hora.

Mais um ano se passou e estou novamente suando para montar um plano de iluminação em uma escada num teatro em Ilha Bela (SP) os óculos novamente escorregam de meu nariz e caem numa mala.
Com raiva deixo-os lá.

Voltando para casa procuro na mala os óculos e não os encontro.
Finalmente perdi-os, penso. Acabou nossa relação nada amistosa.

Ledo engano, 2 semanas depois minha esposa está me entregando-os novamente: achei seus óculos no forro de uma bolsa que levamos para Ilha Bela....

Mês passado, sexta-feira, estou saindo de férias do escritório e quando entro no ônibus para voltar para casa, percebo que os óculos caíram do bolso de minha calça.

Não vou perder esse ônibus, penso. Vou é embora para casa e depois das férias vejo se acho.
Volto depois de 10 dias e os óculos não estão no chão de minha sala.

Passa-se mais um mês e recebo um e-mail institucional informando que existia na empresa um setor de achados e perdidos.

Será que meus óculos estão lá? Vou ao setor de “Achados e Perdidos” e não há ninguém lá. Volto no dia seguinte e não tem ninguém lá de novo.

Finalmente, volto no terceiro dia, pois para se romper uma relação assim toda torta, tenho que insistir para ter certeza de que esses óculos finalmente sumiram.

Mas... sim, são eles que primeiro vejo assim que o guardinha abre a gaveta de óculos perdidos. E ainda levo uma bronca:
___ Tem que tomar cuidado para não perder óculos!

Agora estou escrevendo esse texto e olhando para esses óculos e eles até parecem que também estão olhando para mim...

Que coisa!

Isso não é um óculos é um bumerangue!

Caro MAURÍCIO:

Você conhece aquela música do Raul Seixas..."Como vovó já dizia"?

[ ]´s

Nossa, acho que ele se apaixonou por você

uheiuehiue, vaso ruin nao quebra, e nem se perde

esses oculso devem ser o seu karma

Grande Maurício!!!
Belo texto por sinal... não sei se já faz isso mas deveria investir mais no seu Eu Escritor. Tem uma ótima escrita.
Fiquei preso aqui lendo sua saga...rs.´
KKKKK...
O coitadinho do seu óculos sabe o quanto foi dificil pra você adquiri-lo e por isso faz questão de ficar do seu lado...
Um abraço!

Muito bom o texto... Como sempre, tudo q vc aprendeu com Pero Vaz de Caminha sempre se aflora nesses momentos!

Pode dizer, olhando para voce e rindo, heheheheheheh

Agora sério, sem brincadeira, seus textos me lembram muito as crônicas do Fernando Sabino.

Muito masssa.

Rapazes, entao contarei a história do meu, ela não é como a sua Maurício, mas é parecida...


Meados de 1999, fui convidado para trabalhar em uma banda de baile. Era uma banda pequena, dessas que só toca em festas de igreja em bairros humildes.
Meu irmão disse que eu deveria investir no visual, comprar um óculos bacana para tocar.
Pensei, vou unir o útil ao agradável, comprarei um óculos de sol para fazer pose (modo Bret Michaels ON) nos palcos e para ir a praia, afinal, moro em uma cidade litorânea.
Pois bem, comprei o tal "raibam" como chamam as pessoas aqui. R$25,00 numa liquidação em uma óptica meia boca da cidade.
Usei ele por algum tempo nos palcos, mas como era muito escuro, as vezes eu me perdia por causa dele no braço do instrumento.
Veio a moda dos óculos coloridos e então eu aposentei de vez o tal do "raibam" dos palcos.
E aos poucos ficou somente de óculos de sol.
Troquei as lentes dele por motivos de queda 4 vezes. R$60,00 cada troca. Mas valeu cada centavo investido.
Um dia limpei a caixa d'agua da casa do meu pai com ele, e esqueci ele lá em cima. Ficou lá por dois anos. Achei que havia perdido.
Meu irmão o encontrou e devolveu ele intacto.
Usei ele no palco novamente, mas caiu e quebrou uma lente (até rimou!).
Então resolvi mudar, comprei um novo, mas mesmo assim ele me persegue, esses dias mesmo usei novamente. Muitas bandas depois, ele agora é o meu backup.

esses óclos tem personalidade própria, incrível, quando eu perco as coisas elas não voltam até mim... não sei se sou azarado ou amaldiçoado...

não, você apenas deseja que elas voltem!
se tu agradecer a perda elas aparecem
rs

Pedroswaldo escreveu:Agora sério, sem brincadeira, seus textos me lembram muito as crônicas do Fernando Sabino.

Muito masssa.

Li num piscar de olhos. . muito bom! Na verdade é uma crônica né? Uma história nesse caso verídica.. que tem um enredo engraçado. .
Esses óculos vão passar muito tempo com você ainda hein, pelo visto te chamam de querido.. .
Heheheh!

hahahahah muito bom o texto mauricio

Maurício, depois de ler esse texto não podia deixar de logar e comentar no tópico. Você manda bem pra caramba escrevendo. Seu filho também escreve. Deve ser de família. Já imaginou investir nessa veia de escritor e tentar escrever pequenos contos? Acho que ia se dar bem cara.
[ ]'s

Muito bom Maurício!

Eu não me dou bem com óculos. Mas comigo eles duram. Na minha lua-de-mel, eu comprei um oculos "xerox" do adidas. Paguei 10,00 pilas nele. Esse óculos ja sumiu, ja apareceu, ja foi pra tudo que é lugar. Por fim, ficou mais ou menos uns 3 anos no porta luva do carro. Usava pouco. Um belo dia emprestei para meu cunhado, e decidi dar pra ele o óculos. Nunca me dei bem com essas coisas. Acontece o mesmo comigo de escorregar pelo nariz. E mesmo esses sem grau que vende na ótica me dão dor de cabeça, incomodam... Definitivamente não é pra mim!

kkkkkkkkk rachei! Esses óculos devem ter algum mistério q ainda deve se revelar no futuro ,,,,coisa de loco!
Cantão, desenterrou o bavana japa heim, essa passagem foi cômica tb...kkkkk

Muito legal esse texto Maurício...

Me lembrou um livro chamado "A Estrada da Noite", em que um astro do Rock era perseguido por um terno.

Não são óculos e sim Herpes... Nunca você consegue se livrar!!

Como disseram ai: Esse óculos é um bumerangue mesmo rs!
Parabéns pelo belo texto Maurício!

Maurício mandou bem no conto mesmo!
até parece ficção!

Sinceros agradecimentos a todos!
Vocês são mesmos especiais. E esse fórum é incrível.

Posta uma foto sua com o óculos... acho que você deve essa homenagem a ele... heheh. Agora sério, quantos momentos bons ou ruins vc já passou com esses óculos no rosto, tem alguns objetos que fazem parte de boa parte da nossa história e nem nos damos conta... Boa História essa sua Maurício

Muito bom!

^Ô Maurício, dizem que o amor é cego, mas acho que, no seu caso, é fotofóbico, hahaha!

Perdi meus óculos escuros... ontem.

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK


Será q dessa vez tem volta novamente??

Gente, parece brincadeira...

Postei esse causo ai em cima e no dia seguinte quando cheguei em casa depois do trabalho minha mulher estava comentando com uma visita a história do óculos. Institivamente pus a mão no bolso e cadê os óculos?
Foi risada para tudo quanto é lado.
Imaginei o que poderia ter acontecido e lembrei que dormi no caminho para casa no ônibus com esses óculos. Acordei uns 2 pontos antes do meu e tirei os óculos e pus no bolso.
Fiz o caminho do ponto de ônibus até em casa (coisa de 70 m) e não estava no chão (já achei meu celular nesse caminho na manhã do dia seguinte indo trabalhar).
Só podia ter caído no ônibus pensei e não deu outra. O óculos estava no setor de achados e perdidos da compania de ônibus...

Agora estou com óculos em casa, mas não vou olhar para ele não!

Essa história está parecendo com as histórias do Chicó do filme Auto da Compadecida.

Como foi isso?
Sei não, só sei que foi assim...

Isso já está parecendo história do além, tipo Amazing Stories

Quem bateu a foto? Pero Vaz de Caminha, qd vcs estavam chegando as Costas Brasileiras pela primeira vez? Posta mais fotos da Caravela ai!

Quem bateu eu não sei. Mas quem vai bater eu sei!
Eu sei quem vai bater em santista safado daqui a pouco...

Que gato!!!