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Um pouco de política...

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leandrosf89
Dan
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Mensagem por Dan Ter Out 12, 2010 2:19 pm

Moderação, fique à vontade de trancar ou apagar, mas esse texto representa muito do que eu penso. Confesso que estive muito tempo indeciso sobre esse segundo turno, pensei até em anular o voto, historicamente o protesto do brasileiro: a omissão. Mas comecei a pensar pela linha que segue esse texto e me convenci. Depois queria justificar para as pessoas, para que elas entendam por que eu estaria fazendo isso, não porque eu precise me justificar, mas apenas porque não é muito fácil de compreender uma escolha como essa. Esse texto explica tudo e mais um pouco. Sugiro a leitura, sei das criticas e conheço os argumentos que são sempre os mesmos para os dois lados, só quero que as pessoas respeitem os votos uns dos outros.

Dois pesos... - Maria Rita Kehl
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

fonte: http://sergyovitro.blogspot.com/2010/10/dois-pesos-maria-rita-kehl.html

Boa sorte a todos nessas eleições.


Última edição por Dan em Ter Out 12, 2010 2:36 pm, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : inclusão da fonte)
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Mensagem por leandrosf89 Ter Out 12, 2010 2:45 pm

Esse texto é fenomenal! Tinha postado no meu twitter!
Detalhe: ela foi demitida do Estadão!
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Mensagem por webercar Ter Out 12, 2010 11:12 pm

É meus amigos, infelizmente, a imprensa só tem livre expressão na constituição, na prática não é bem assim. Está aí a prova que o FHC e Serra e suas curríolas paulistas têm influências no jornal Estadão de São Paulo.
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Mensagem por Thales_Sr Ter Out 12, 2010 11:57 pm

A livre expressão existe, mas se o repórter falar o que o dono do jornal não quer, vai pra rua. Acontece em toda empresa...

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Mensagem por Convidado Ter Out 12, 2010 11:58 pm

Thales_Sr escreveu:A livre expressão existe, mas se o repórter falar o que o dono do jornal não quer, vai pra rua. Acontece em toda empresa...

Então manda o dono do Jornal escrever coluna de opinião... Isso não é qualquer produto. Veículo de informação não é "qualquer empresa".

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Mensagem por Cantão Qua Out 13, 2010 12:20 am

Texto polêmico , sem dúvida.

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Mensagem por fmt90 Qua Out 13, 2010 12:09 pm

Muito bem observado o ponto de vista dessa jornalista.
Atualmente, estou estudando na Universidade uma materia chamada Economia do Setor Público. Nessa matéria eu estudo as "Falhas de Mercado" que as instituições privadas vem a causar em toda esfera social. O governo tem como função e objetivo, intervir(o quanto ainda é um dilema) precisamente para que as garantias minimas da sociedade sejam garantidas. Como a jornalista mencionou, o efeito de um programa social como o Bolsa-Familia em uma cidade pequena, estimula as pessoas a consumirem muito mais do que o normalmente ocasionando uma maior circulação de mercadorias e esta um aumenta na renda da região. Além de realmente exigirem seus direitos trabalhistas.
Existem 2 pontos(ao meu ver) que podem ser do contra:
- Gestão desses recursos, nós sabemos que muito desses recursos está destinado a pessoas que não necessitam realmente do dinheiro(geralmente parentes de politicos da cidade ou região);

- Se esse programa intervir muuuuito na renda da cidade ou região, poderá haver uma compensação com uma elevação dos preços. Por isso, é que existem estudos de quanto encaminhar para cada área, para que o beneficio seja realizado em sua totalidade.

Bem, é isso... quis somente fazer um comentario com algumas consequencias de programas governamentais na sociedade brasileira com meu infimo conhecimento em economia.
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